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Channel: Marcha das Vadias | Cultura e Sexualidade
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“Quem manda na mata é Oxóssi; quem manda no meu corpo sou eu!”: Viva as vadias!

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Gilmaro Nogueira

Com esse refrão, título desse texto, começava minha experiência na Marcha das Vadias em Simões Filho, cidade metropolitana de Salvador. Além desse, um outro grito me chamava atenção: “Se o corpo, se o corpo é da mulher, ela dá, ela dá pra quem quiser”, que logo se transformou em: “Se o corpo, se o corpo é da mulher, ela dá, ela dá pra quem quiser, até pra outra mulher!”

A marcha era composta por corpos com pouca roupa, homens de saia, e logo chegaram homens malhados (heterossexuais, talvez!) sem camisa, que tiveram seus corpos inscritos com frases feministas. Corpos que queriam ser lidos e transmitir uma mensagem de muita coragem. Além dos corpos, cartazes e faixas.

A multidão parecia não entender aquele grupo tão diverso de sujeitos reivindicando a posse do corpo, autonomia feminina e liberdade sexual. Algumas pessoas vaiavam – maioritariamente as mulheres, que pareciam não se reconhecer na opressão que ali era questionada.

A marcha acusava o poder público de tentar abafar seus gritos, as colocando entre uma fanfarra e um grupo evangélico, para tentar abafar essas vozes que não se calaram e esses corpos que teimam em resistir.

Vale lembrar que a Secretaria das Mulheres em Simões Filho, local do desfile, é chefiada pela esposa de um vereador evangélico que já postou um flyer no facebook com os dizeres: Homossexuais fora da escola.

Imagem compartilhada pelo Vereador Luciano Almeida

Ou seja, uma secretaria das mulheres que jamais vai integrar a luta das mulheres lésbicas ou a favor do aborto, mas que mostra o empenho dos evangélicos em tomar os lugares de lutas das mulheres e LGBT´s, para barrar os avanços dos direitos humanos.

Meu entusiasmo com o movimento após essas observações só aumentaram e pelos seguintes motivos:

1)    As vadias conseguem juntar a opressão às mulheres heterossexuais, as lésbicas, aos homossexuais, etc. Conseguem pensar uma luta que atinge uma diversidade de sujeitos, não marcada apenas pela questão da orientação sexual.

2)    Os sujeitos heterossexuais eram bem aceitos e inscreviam em seus corpos as lutas do outro, embora esse outro fossem as mulheres, mas talvez se tivessem que escrever algum signo da homossexualidade eles teriam rejeitado por medo.

3)    As vadias atacam o machismo que o movimento LGBT às vezes (às vezes) reforça. O feminino é a força das vadias.

4)    As vadias desrespeitam o sexo biológico (ao menos nessa situação). Um dos líderes do movimento é uma bicha afeminada. Outro movimento, talvez, iria marcar esse corpo como incapaz de representar a marcha, por não ter uma vagina.

5)    As vadias incomodam e causam espanto. Parece-me mais resistente a assimilação do outro, principalmente a uma busca pela aceitação social que compromete a luta pela diferença e termina aderindo a normatização e normalização.

6)    As vadias pareciam enfrentar também o preconceito religioso, incorporando a questão das religiões de matrizes africanas, ainda que discretamente.

7)    As vadias tentam manifestar-se em diversas ocasiões e não apenas em paradas, o que permite lidar com uma diversidade de situações, confrontar-se com o preconceito e ter que lidar com ele naquele momento.

8)    As vadias parecem apostar mais nos corpos, nos gritos, que nas celebridades, nos trios e shows. As vadias são um show e duvido que se transformem numa atração turística.

9)    As vadias se apropriam do que é ofensivo e busca esvaziar, a exemplo do próprio termo, entre outros, a exemplo dos gritos que citam as genitálias.

10)  As vadias são uma minoria que não se acovarda frente a maioria das ruas, não temem as vaias, nem o enfrentamento.

Ao levantar esses pontos, não desconsidero que esse ou outro movimento social não tenha suas limitações, mas apenas para evidenciar as virtudes e potencial transgressor. Quem venha mais e mais marchas das vadias!

Quero homenagear, com esse post, meu amigo Allan Castro, um entusiasta da marcha das vadias, incansável e tão inconsequente que larga tarefas prioritárias para planejar com outras vadias essa marcha. Uma bicha tão louca quanto uma vadia deve ser! E minha linda amiga Sandra Munoz, outra maluca, incansável, que não cessa a luta.


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